terça-feira, 26 de abril de 2011

Gotas fincadas.















Chuva fria. Gotas caídas no vazio da escuridão.
Alma molhada, inundada, transbordando pelos olhos.
Na penumbra do abajour, o perfil triste, tosco e soluçante.
No quarto, o reflexo da cadeira vazia no espelho que aprisionou a alma.
Da janela embaçada, apenas o que resta são os vidros suados, chorosos...


Som contínuo da chuva que faz adormecer os que têm uma cama aconchegante...

Agradecimento.

Som contínuo da chuva que faz tremer os que não têm onde se aconchegar...
Tormento.
Aperto dos olhos e sacudida da mente...Não vamos pensar nisto...
Sejamos egoístas, pelo menos, por esta hora...
O peito já arde por conta de outras coisas...outro prestar de contas.

Pensa, sente, chora, grita...ops...
Gritar não...Gritar sempre é demais.

Gritar por quê?!? Barulho desnecessário.
Lá dentro é que se grita. O grito da transformação, da decisão de mudança ou mesmo, de socorro.

As horas passam e o tic-tac já nem incomoda mais... abafou-se pelo murmúrio da chuva espessa.
O clarear demora, mas há esperança.
Um cochilo...
Os olhos úmidos piscaram demoradamente e já amanheceu.
Os primeiros raios de sol surgem tímidos por entre as nuvens que outrora se desmanchavam em sentimentos.
A força dos raios vai impondo seu respeito no decorrer do dia.
Tudo volta ao que era.
Aproveito e ponho minha alma para secar no varal que sustenta lençóis brancos.
Minh'alma se mistura aos panos alvos, ofuscando os olhos de quem vê, inclusive os meus.
A chuva, pelo menos por algumas horas, deu uma trégua...até a próxima noite...até a próxima escuridão...


(Por Bethânia Santos - 26.4.2011 - às 2h da manhã)