Os homens jamais fazem o mal tão completamente e com tanta alegria como quando o fazem a partir de uma convicção religiosa.
Blaise Pascal.
“(...) Tenho certeza de que não conheço essa Igreja. – Ele se virou ligeiramente para o outro lado. – Não é certamente o lugar aonde eu vou aos domingos – disse mais para si mesmo, sem saber se era seguro falar em voz alta.
_ Mack, isso é porque você só está vendo a instituição, que é um sistema feito pelo ser humano. Não foi isso que eu vim construir. O que vejo são as pessoas e suas vidas, uma comunidade que vive e respira feita de todos que me amam, e não de prédios, regras e programas.
Mack ficou meio abalado ouvindo Jesus falar de “igreja” desse modo, mas isso não chegou a surpreendê-lo. De fato, foi um alívio.
_ Então como posso fazer parte dessa Igreja? Dessa mulher pela qual você parece estar tão apaixonado?
_ É simples, Mack. Tudo só tem a ver com os relacionamentos e com o fato de compartilhar a vida. É exatamente o que estamos fazendo agora, simplesmente isso, sendo abertos e disponíveis um para o outro. Minha igreja tem a ver com as pessoas e a vida tem a ver com os relacionamentos. Você pode construí-la. É o meu trabalho e, na verdade, sou bastante bom nisso – disse Jesus com um risinho.
Para Mack essas palavras foram com um sopro de ar puro! Simples. Não um monte de rituais exaustivos e uma longa lista de exigências, nada de reuniões intermináveis com pessoas desconhecidas. Simplesmente compartilhar a vida.
(...)
_ Bom, para ser honesto – admitiu - , não estou desapontado, porque nunca me senti atraído pela “rua de ouro”. Sempre achei meio chato. Maravilhoso mesmo é estar aqui com você.
Um silêncio baixou enquanto Mack absorvia o momento. Podia ouvir o sussurro do vento acariciando as árvores e o riso do riacho ali perto derramando-se no lago. O dia estava majestoso e o cenário era incrível.
_ Realmente desejo entender. Quer dizer, acho que o modo como vocês são é muito diferente de todo o negócio religioso em que fui criado e com o qual me acostumei.
_ Pois mais bem-intencionada que seja, você sabe que a máquina religiosa é capaz de engolir as pessoas! – disse Jesus, num tom meio cortante. – Uma quantidade enorme de coisas que são feitas em meu nome não têm nada a ver comigo. E frequentemente são muito contrárias aos meus propósitos.
_ Você não gosta muito de religião e de instituições? – perguntou Mack, sem saber se estava fazendo uma pergunta ou uma afirmação.
_ Eu não crio instituições. Nunca criei, nunca criarei.
_ E a instituição casamento?
_ O casamento não é uma instituição. É um relacionamento. – Jesus fez uma pausa e retomou, com a voz firme e paciente: _ Como eu disse, não crio instituições. Essa é uma ocupação dos que querem brincar de Deus. Portanto, não , não gosto muito de religiões e também não gosto de política nem de economia. – E por que deveria gostar? É a trindade de terrores criada pelo ser humano que assola a Terra e engana aqueles de quem eu gosto. Quantos tormentos e ansiedades relacionados a uma dessas três coisas as pessoas enfrentam!
Mack hesitou. Não sabia o que dizer. Tudo parecia um pouco excessivo. Notando que os olhos de Mack estavam ficando vidrados, Jesus baixou o tom.
_ Falando em modo simples, religião, política e economia são ferramentas terríveis que muitos usam para sustentar suas ilusões de segurança e controle. As pessoas têm medo da incerteza, do futuro. Essas instituições, essas estruturas e ideologias são um esforço inútil de criar algum sentimento de certeza e segurança onde nada disso existe. É tudo falso! Os sistemas não podem oferecer segurança, só eu posso.
Mack ainda estava processando o que ouvira, sem conseguir grande coisa. – Então? – Transformou a palavra numa pergunta.
- Eu vim lhes dar a vida na totalidade. Minha vida. – Mack ainda estava se esforçando para entender. – A simplicidade e a pureza de desfrutar de uma amizade crescente.
(...)
_ Quantas mentiras me contaram! – admitiu ele.
Jesus olhou para ele, puxou-o e o abraçou.
_ Eu sei, Mack, a mim também. Simplesmente não acreditei nelas.
Juntos começaram a andar pelo cais. Quando se aproximavam da margem, voltaram a diminuir o passo. Jesus colocou a mão no ombro de Mack e virou-o gentilmente, até ficarem cara a cara.
_ Mack, o sistema do mundo é o que é. As instituições, as ideologias e todos os esforços vãos e inúteis da humanidade estão em toda parte e é impossível deixar de interagir com tudo isso. Mas eu posso lhe dar liberdade para superar qualquer sistema de poder em que você se encontre, seja ele religioso, econômico, social ou político. Você terá uma liberdade cada vez maior de estar dentro ou fora de todos os tipos de sistemas e de se mover livremente entre eles. Juntos, você e eu podemos estar dentro do sistema e não fazer parte dele.
_ Mas tanta gente de quem eu gosto parece fazer parte do sistema! – Mack estava pensando nos amigos, nas pessoas da igreja que haviam expressado amor por ele e por sua família. Sabia que elas amavam Jesus, mas que também eram totalmente vendidas para a atividade religiosa e o patriotismo.
_ Mack, eu as amo. E você comete um erro julgando-as. Devemos encontrar modos de amar e servir os que estão dentro do sistema, não acha? Lembre-se, as pessoas que me conhecem são aquelas que estão livres para viver e amar sem qualquer compromisso.
(...)
_ Isso significa que todas as estradas levam a você?
_ De jeito nenhum – sorriu Jesus... – A maioria das estradas não leva a lugar nenhum. O que isso significa é que eu viajarei por qualquer estrada para encontrar vocês.
(...)
Do livro “A Cabana” – de William P. Young.
***************************************