sexta-feira, 13 de agosto de 2010

SAUDADE





SAUDADE



Saudade de ouvir meu pai chegando do quartel e dando um toque no basculante da cozinha. Como eu ficava feliz em ver a cena em que ele deixava a bolsa em cima da mesa, olhava para mim e para minha mãe e fazia um som com a boca - tipo um assobio - demonstrando o cansaço. Em seguida, eu beijava o seu rosto cansado.

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Saudade da minha mãe arrumando meu prato e trazendo para que eu comesse...Muitas vezes, ela me dava na boca, enquanto eu assistia ao "Sítio do Pica-Pau Amarelo" ou ao "Bozo". Eu me lembro daquele arroz com feijão, batata, carne amassadinhos e uma banana.

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Saudade do dia em que meu pai chegou com aquela vitrola vermelha e um disquinho de vinil (acho que do palhaço Carequinha).

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Meu pai era muito habilidoso com tudo o que fazia. Sinto saudade de coisas que ele criava para mim - um balanço com cordas fortes. Fez também um carrinho de madeira. Eu conseguia me sentar e ele empurrava com um pedaço de pau e eu achava que estava dirigindo. Uma vez, ele fez um microfone com o acendedor de fogão que ninguém utilizava mais e eu imitava a Xuxa.

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Sinto saudades do tempo em que dançava as músicas da 'Xuxa' e do 'Trem da Alegria' na sala.
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Saudade de quando meu pai colocava as canções do padre Zezinho e nós cantávamos.

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Saudade da minha mãe pintando camisetas com bonequinhas de um olho só (porque o outro estava coberto por um grande chapelão chique)...rs...Ela ainda costurava um cordãozinho de bolinhas brancas, que dava a nítida impressão de que eram pérolas pequenas.
Saudades.
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Meus pais me levavam, sempre que podiam, a um Parque de diversões em frente à Rodoviária de Campo Grande. Como eu gostava!!

Saudades.
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Eu me lembro de quando minha mãe me buscava na escola. Eu ficava tão feliz quando dava a hora da saída e quando eu a avistava no portão. Tenho saudades também de quando ela encapava meus cadernos e os pintava. Ninguém, na escola, tinha cadernos com capas tão lindas...mas era terrível quando eu trazia dever de casa. Ela sempre mandava eu apagar tudo porque a letra estava horrível. Acho que minha mãe queria que eu tivesse a letra igual a dela.

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Lembro-me de quando meu pai chegou em casa com um disco de vinil da 'Orquestra do Corpo de Bombeiros'. Fiquei contente. Ele trouxe uma batuta e dava uma de maestro...e eu imitava.
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Saudade de quando meus pais me levavam para fazer compras nas Sendas, quando eu ainda era bem pequena. Eu me lembro que minha mãe sempre pegava para mim a amostra de um docinho, que a gente comia até a parte de fora (parecia isopor).

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Saudade da minha mãe penteando meus cabelos rebeldes...como doía..kkk...

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Saudade de quando ela me arrumava, me calçava aqueles meiões brancos e colocava os quichutes, me levando, em seguida, para a escola. (Apesar de eu não gostar de ir à escola quando pequena.)

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Saudade das minhas bonecas. Rosilda, Amiguinha...
Tinha um barrigudinho também com uma boina branca...Eu tinha muitos brinquedos...presentes da minha avó.
Muitos brinquedos também eram dados pelo quartel no fim de ano ou em outras comemorações. Meu pai ficava todo orgulhoso em trazer aqueles brinquedos para mim.
A Amiguinha e o Bebê da Estrela foram dados por meus pais. Fora os carrinhos, joguinhos de chá, panelinhas, fogõezinhos...
Saudade...


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Saudade da piscina de cimento, pintada de azul, feita por meu pai para que nossa família pudesse se refrescar.
Eu, quase sempre, chamava meus amiguinhos para tomar banho de piscina...Era muito legal.
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Saudade do Corcel Vermelho do meu pai.
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Saudade de quando minha mãe deixava eu brincar um pouquinho na rua ou na casa de alguns poucos e bons vizinhos. Na maioria das vezes, ela preferia que os amiguinhos viessem até nossa casa.

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No dia de Natal, minha mãe dizia que quando eu ouvisse a música de Papai Noel, os presentes apareceriam perto da Árvore de Natal e que, provavelmente, Papai Noel estaria escondido atrás da poltrona. Apesar de sentir muita vontade de correr até os presentes, eu esperava bastante, pois ficava com muito medo de Papai Noel pular de trás do sofá e me dar um susto.


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Agora, me lembrei de uma outra cena de Natal. Meu pai cismou de se vestir de Papai Noel...Colocou uns óculos escuros, se enrolou numa colcha vermelha e colocou alguns algodões no rosto...Rimos à beça.
Saudades.

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Saudade do tempo em que minha avó me ajudava a ‘catar’ lacraias verdes das folhas ruídas de coqueiros. Nós colocávamos as lacraias vivas dentro de potinhos vazios de manteiga.

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Saudade das poucas vezes em que minha mãe deixava eu lamber a massa de bolo cru daquela enorme vasilha ...(na maioria das vezes, ela enchia d'água, dizendo que eu não podia comer porque fazia mal).

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Saudade de ver minha irmã subindo no berço e me chamando de “Nana”, quando eu chegava da antiga escola primária.

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Saudade de quando minha mãe ou meu pai me acordava às 3h30min. da manhã para irmos ao hospital do Bombeiro fazer algum exame. Era ruim acordar, mas depois que estávamos a caminho era legal. Quando chegávamos ao hospital, logo depois da consulta ou exame, nós íamos para a cantina lanchar. Nós olhávamos o Cristo do hospital de manhã cedo. Era muito bonito.

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Saudade da minha cama grudada na cama da minha irmã.

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Saudade de quando eu assistia ao "Cavalo de Fogo" com minha irmã e cantávamos a musiquinha de abertura.

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Saudade de ver o meu pai fazendo oração ao lado de minha cama, antes de nós dormirmos.

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Saudade do meu pai me ensinando Expressões Numéricas. Sempre me dei mal em Matemática, mas gostava, particularmente, das expressões porque ele tinha me ensinado tão bem...com tanto amor, que nunca mais me esqueci.

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Saudade de quando minha avó trazia os biscoitinhos salgados amarelos ‘de isopor’ e os danoninhos.
Saudade...

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Passeio bom era aquele em que pegávamos o ônibus para Paracambi. Eu adorava ir lá...não tanto para reencontrar os parentes – porque não tínhamos um contato contínuo – mas pela viagem em si. Gostava dos ‘salavancos’ das conduções. Quando entrávamos no ônibus, eu não passava a roleta porque queria me sentar no banco de trás por ser o mais alto. Meus pais, obviamente, me acompanhavam e íamos felizes...Eu sempre com a sensação de que estava em cima de um cavalo de tanto que sacolejava...(risos). Não tinha noção do péssimo estado da estrada...Achava tudo uma maravilha, inclusive a poeira do caminho. Quando chegávamos a Paracambi, eu gostava de caminhar até a casa da avó. Andava pelo caminho de paralelepípedo. Saudade de olhar para aquelas casas que nunca se modicavam. Saudade de olhar aquele rio que dividia as ruas. Saudade do cheiro do rio. Criança gosta de tudo mesmo...Acha tudo uma beleza. Hoje sei que o cheiro era de esgoto...kkkk...Meu pai chegava muito feliz à casa da mãe dele. Minha mãe nem tanto. Eu me lembro que sempre que estávamos ainda em casa nos arrumando para irmos, eles discutiam por qualquer bobagem. Minha mãe sempre dizia: “Sempre que vamos para lá, temos que discutir”...(picuinhas de família)...rs...Mas era legal estar lá. Gostava da companhia da minha tia, de rever os primos, das duas casas. A casa de minha avó sempre arrumadinha. Ela tinha obsessão por limpeza. Eu me sentia bem quando dormíamos na sala juntinhos – minha mãe, meu pai e eu. Quando eu acordava, todos já tinham se levantado e eu sentia um cheirinho de leite bom...mas, já era o dia de vir embora. Eu sempre achava que ficávamos pouco tempo por lá, mas também, não reclamava. Vínhamos embora numa boa.
Saudade.

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O bom mesmo era dormir na casa da minha avó daqui...Nossa, como eu gostava! Na casa dela, eu me sentia tão à vontade. Era se como eu estivesse em minha segunda casa.Eu chegava à tarde, tomava banho, lanchava e ficávamos vendo TV. Depois dormíamos e ela sempre colocava umas cadeiras ao lado da cama, com medo de que eu pudesse cair. Quando eu acordava, sentia aquele cheiro bom de café da manhã. Uma maravilha!! Passava o dia feliz da vida. Às vezes, eu passeava pelo bairro com algumas amiguinhas da vizinhança, íamos para a pracinha, mas eu não ficava muito tempo. Não queria preocupar minha avó e também não queria deixá-la sozinha. Afinal de contas, eu sempre ia para lá para ficar com ela e não com as colegas. Sinto o cheiro dela até hoje.
Saudade.

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Saudade das poucas vezes que íamos passear no sítio da tia emprestada, grande amiga da minha mãe. Como eu gostava de estar lá. Ver aqueles bichos...porcos, galinhas, cachorros. Como eu ficava alegre em ver aquele bambuzal e, quando subíamos no laranjal. Eu achava o paraíso.

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Lembrei-me também das poucas vezes em que fui às festas juninas da rua da minha avó. Era bem legal aquelas comilanças todas, aquela fogueira.
Saudade.

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Meus pais, eu e minha irmã sempre íamos à igreja aos domingos bem cedinho. Não era muito legal acordar cedo, mas quando já estávamos lá não era tão ruim. Cantávamos belos hinos, orávamos. Um tempo em que a igreja era tão pura...tão cheia de vida...Um tempo em que os pastores e as pessoas eram mais amáveis e não se preocupavam só com bem material.Saudade...não pelo Templo em si, mas pela energia das pessoas, do fervor dos hinos, sinto saudade, principalmente, em ver meus pais juntos, sentados na poltrona da igreja, cantando e meditando na palavra de Deus.
Saudade.
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Era tão bom quando tínhamos um grupo da igreja que programava passeios. Como nos divertíamos. Éramos formados, mais ou menos, por umas 20 pessoas. Um dos casais do grupo tinha um restaurante na Pedra de Guaratiba. Era muito bom quando íamos para lá. Comíamos, ríamos, passeávamos.Uma vez, fomos até Angra passar uns dias. Foi maravilhoso. Inesquecíveis aquelas praias.
Saudade.

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Saudade de ver meu pai costurando as nossas roupas.

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Saudade de ver minha avó chegando aqui em casa, batendo no portão e chamando pelo meu nome. Às vezes, até a esperávamos no portão e quando a avistávamos descendo a rua, eu e minha irmã íamos correndo encontrá-la. Nós a agarrávamos tanto, que quase derrubávamos tudo, inclusive ela.
Saudade.
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Lembro-me do meu pai fazendo telas de silk-screan...Lembro-me dele esticando o nylon na tela, batendo para encaixar cada lado, revelando em seguida, na máquina que ele mesmo tinha feito e pintando vários panfletos e camisetas. Minha mãe fazia os moldes com letras-decalques e o ajudava bastante...Eu gostava de ver aquilo.

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Meu pai usava nas obras que fazia aqui em casa, uma bermuda suja de cimento, com uma camisa branca, um quepe velho, de quando ele era soldado do Corpo de Bombeiros, e botas. Acordava bem cedo, vestia essa ‘roupa de guerra’ e terminava ao anoitecer, quando minha mãe, já nervosa por ele ter trabalhado tanto, pedia que parasse para descansar. E ele gritava: “Dá-lhe Quiiiiiiiiiiiiincas”...rs
Saudade...
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Saudade de ver meu pai colocando um jaleco branco e sentando numa cadeira para que minha mãe cortasse seus cabelos. Saudade de ver aquela cena simples e bonita.


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E quando meus amigos adolescentes sentavam-se comigo na calçada?...Que bacana...Era sempre por volta das 19h30min. Quase todos os dias. Um vinha, chamava...Daqui a pouco, vinha outro e outro...e quando percebíamos, tinha uma roda de colegas!!,,.Ríamos muito...Zoávamos...Contávamos histórias de colégio, brincávamos de 'jogo-da-verdade', falávamos de paixonites do momento...Saudade...

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Lembrei-me agora do tempo de Normalista no Sarah Kubitsheck.
Quando batia 10h30min., eu tomava banho e começava a me arrumar para ir ao colégio... Eu me sentia a normalista mais feliz do mundo. Estava tinindo!! Era a época dos namoricos, das paixonites mais agudas..kkkk...Colocava aquele uniforme comportado, que eu sempre ‘descomportava’, desabotoando as abotoaduras, retirando as estrelas, enrolando a saia. Soltava meus cabelos loiros, tingidos na época por mim mesma. Parecia um sol!...kkk...Colocava meus cordões pesados de rock pauleira, anéis, pulseiras, brincos... E lá ia a estudante ousada – pelo menos, eu me achava - Na escola, eu me sentia muito bem. Como eu gostava de rir com meus amigos! Como zoávamos a nós mesmos e aos outros. Que tempo divertido. Tudo era motivo para riso e alegria! Que saudade!
Só saudade.

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Eu me lembro perfeitamente quando conheci o meu marido. Estávamos no curso de datilografia. Ele, com uma blusa branca, com listras azuis e com um macacão jeans. Começamos a conversar e descobrimos que morávamos perto um do outro. Morávamos praticamente no mesmo bairro e nunca tínhamos nos visto. Às vezes, vínhamos juntos, conversando alegremente. Bastou ele interromper o curso, para eu começar a sentir saudade. Um dia, nos reencontramos e ele disse que me faria uma visita. Veio na mesma semana. Acho que foi até no dia seguinte...(risos)...Ele apareceu com um violão, me pediu em namoro e cantou “La Bamba”....Muito brega!!..kkkkkk...mas eu me apaixonei mesmo assim...kkk...Começamos a namorar. Ele chegava e me chamava. Na maioria das vezes, trazia o violão.
Depois de um tempo, eu comecei a fazer faculdade e ele ia me buscar. Namoramos por muitos anos até nos casarmos.
Saudade.
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Muitas saudades em ver meu pai sentado à mesa do lado de fora, cortando as unhas com aquele cortador. Depois, ele pegava um espelhinho e com a tesourinha cortava os pelinhos do nariz...rs
Que saudade!
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Lembro-me de quando meu pai subia na laje de casa. Eu pedia para subir também e ele deixava. Para descer, era um sufoco...Eu ficava tão desesperada e pedia para o meu pai me segurar. Ele me segurava sim...enrolava meu cabelo, como uma trouxa, e dizia: "Pode descer que eu estou segurando!"..kkk... Nunca me desequilibrei, mas se, por acaso, acontecesse, ficaria pendurada pelos cabelos, nas mãos fortes de meu pai...
Saudade...
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Vi meu pai e meu marido (na época namorado) construírem nossa casa. Cada cômodo era construído com todo amor e cuidado. Meu pai sempre foi perfeccionista e media quase dez vezes a mesma coisa...kkk...Dava nos nervos...mas ele não queria errar.
Saudade.


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Saudade de levar meu pai para fazer compras, para ajudá-lo a carregar as coisas, quando ele estava mais velho e cansado.

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Saudade do tempo em que eu podia dormir uma noite inteira, sem interrupções - hoje, apesar do cansaço, fico muito feliz por ser acordada em todos os momentos pelo meu bebê, que foi tão esperado – mas eu tenho saudade sim do tempo em que eu podia dormir, mas só disso mesmo. A vida, apesar das belas coisas que vivi, não tinha a graça que tem hoje. Com meu bebê levado, tudo é tão mais divertido.

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Um tempo que passou...que não volta nunca mais.


E de tudo, sinto uma saudade imensa.


Seria muito bom se eu pudesse reviver cada detalhe, mas como, fisicamente, é impossível, contento-me em me lembrar com tanto amor de pessoas que fizeram – e algumas ainda fazem, graças a Deus – parte da minha vida...Da minha vida tão feliz.


Hoje, estou com 31 anos e sou muito grata a Deus e à vida por tudo o que passei e pelas pessoas que atravessaram meu caminho e que deixaram marcas de amor.


Espero ainda viver muito para contar lindas histórias ao meu filho Joaquim, aos meus netos e a quem mais se interessar.



A palavra 'saudade' foi repetida inúmeras vezes...Acho que não poderia ser diferente para quem viveu momentos tão felizes.


Obrigada, Deus, por ter a capacidade de sentir tanta saudade.




A saudade é a nossa alma dizendo para onde ela quer voltar. (Rubem Alves)



“A saudade é a maior prova de que o passado valeu à pena.”



“(...) A saudade é amiga da solidão, companheira inseparável do amor, visita invisível da amizade, às vezes pedaço de paixão, em muitos casos, suave perfume de momentos de carinho e ternura.”



Por Bethânia Santos - Um dia de lembranças com muita saudade -
Em 13 de agosto de 2010 - 02:57 da manhã.


Um comentário:

  1. Oh,Betânia,as saudades nos mantêem vivas.Cada uma de nós carrega as suas. bjs

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